Navio quebra-gelo russo Akademik Tryoshnikov. Fotos: Anete Poll

O  navio quebra-gelo científico Akademik Tryoshnikov, de bandeira russa, está com viagem marcada, saindo hoje do Porto de Rio Grande, por volta das 22h, rumo ao Continente Antártico. Assim foi iniciada a maior Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica (ICCE). A jornada reúne 61 cientistas de sete países – Argentina, Brasil, Chile, China, Índia, Peru e Rússia – e é coordenada pelo renomado pesquisador e explorador polar Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Ao longo dos 60 dias de expedição serão coletadas amostras do manto de gelo e seu entorno, aproximando-se ao máximo das frentes das geleiras. A missão, pioneira em escala global, visa investigar os impactos das mudanças climáticas por meio da coleta de dados biológicos, químicos, físicos e atmosféricos, além de um inédito levantamento aéreo das massas de gelo. A pesquisa vai focar em 16 geleiras que têm comportamento similar a aquelas chamadas de juízo final, que são exatamente as sujeitas à instabilidade e haverá levantamentos detalhados que estão em terra.

A expedição é liderada pelo pesquisador Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar Climático (CPC), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). A Expedição Internacional de Circum- Navegação Costeira Antártica, prevê chegar o mais perto possível do continente. Jefferson explica que já houve outras expedições ao redor, mas não tão perto. Entre os objetivos científicos estão estudar os efeitos que a Antártica tem no clima. ” Ao longo da rota serão feitos vários estudos oceanográficos, medindo as características do local. As duas regiões polares mostram os indícios mais rápidos das mudanças climáticas”, justifica.

 

Laboratório de oceanologia é um dos laboratórios existentes no navio.

O professor considera extremamente importante destacar que está acontecendo um rápido aumento da temperatura atmosférica, com o aquecimento global, que na Antártica é amplificado. “Estamos observando, por exemplo, a diminuição da salinidade, a água de derretimento de geleira e o aumento da acidez do oceano, que absorve o dióxido de carbono( CO2).

A expedição pretende coletar o máximo de dados para verificar como a biodiversidade está respondendo a essas rápidas mudanças no clima e quais os cenários para o futuro. “Temos um problema sério no Brasil que muitas vezes é olhar muito para o norte e não entender que Porto Alegre é mais perto da Antártica que Roraima, por exemplo, que a dimensão da Antártica é enorme, que o clima de lá afeta nosso dia a dia”, apontou o pesquisador.

Ele destacou ainda que as enchentes de maio deste ano, que destruíram o Rio Grande do Sul, estavam diretamente ligadas à questão da Antártica. “Tivemos bloqueios pela onda enorme de calor ao norte do Brasil e os 700 mm de água ficaram em nossas cabeças uma semana, o que mostra o sistema conectado”.

Uma segunda meta da expedição é coletar água em diferentes profundidades, assim como medir as características  físicas e temperatura, em diferentes estações oceanográficas, assim como conferir a estabilidade do manto de gelo da Antártica. O pesquisador salientou que, por enquanto, ele não é o maior contribuidor para o aumento no nível do mar.  “Os cenários do painel governamental da ONU sobre mudanças do clima indicam um aumento no nível do mar em até 1,2 m nos próximos 80 anos. Rio Grande, neste caso, seria seriamente atingida.

Pesquisador Jefferson Cardia explicou como se dará a expedição.

Jefferson Cardia Simões disse ainda que “em um momento de complicação na política internacional, surge a intenção de demonstrar que a cooperação científica e a parceria acadêmica refletem, acima de tudo, a essência da diplomacia científica. Trata-se de buscar soluções para problemas mútuos, com interesses compartilhados, por meio de uma ciência de vanguarda, promovida pela cooperação internacional, pelo intercâmbio de cientistas e pelo desenvolvimento conjunto de pesquisas.”

A reitora da Ufrgs, Márcia Barbosa relatou que a parceria entre a pesquisa da universidade e a Rússia começou há mais de ano. “A cooperação internacional entre a UFRGS e esse projeto científico com a Rússia não começa hoje; ela iniciou há anos , quando Jefferson foi ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação enquanto eu ainda trabalhava como secretária, e disse que tinha a chance de trazer esse projeto”.
O navio

O navio Akademik Tryoshnikov, pertencente ao Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica, localizado em São Petersburgo, na Rússia. A embarcação deixou o território russo no dia 25 de outubro e navegou por 23 dias até atracar no porto marítimo gaúcho, onde foi carregada com equipamentos e teve o embarque dos pesquisadores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *