Rio Grande – Apesar de ser uma doença antiga, a tuberculose (TB) ainda demanda atenção e esforços para o seu controle e prevenção no Brasil e no mundo. Diante desse cenário, o Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., da Universidade Federal do Rio Grande (HU-Furg), em parceria com a Faculdade de Medicina (FaMed/Furg), destaca-se por ações de combate à doença nas áreas de pesquisa e assistência.
O HU-Furg presta atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para a população acometida por tuberculose na cidade de Rio Grande e região. Essa doença infecciosa é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis e afeta, principalmente, os pulmões e, quando não tratada corretamente, pode levar à morte metade dos doentes.
Quando uma pessoa saudável é exposta ao microrganismo, tem 30% de chance de infectar-se, dependendo do grau de exposição (proximidade, condições do ambiente e tempo de convivência). As pessoas infectadas, em geral, permanecem saudáveis por muitos anos, com imunidade (defesa) parcial ao bacilo. Essa condição é conhecida como infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) e pode perdurar toda a vida. Entretanto, algumas pessoas, em situações em condição de imunodeficiência, podem adoecer ao longo da vida, mesmo muitos anos após ter sido infectada.
A detecção da ILTB e o tratamento preventivo da tuberculose (TPT) para as pessoas com alto risco de evolução para a doença, são algumas das ações-chave para eliminar a tuberculose como problema de saúde pública e melhorar a qualidade de vida de populações específicas como as crianças menores de cinco anos e as pessoas com imunodeficiências.
Entenda a linha de cuidado para diagnóstico e tratamento preventivo da tuberculose
Segundo a enfermeira Fernanda Mattos de Souza, a doença é uma das principais infecções que contribuem para a mortalidade em pacientes imunodeprimidos, dentre eles, as pessoas que vivem com HIV/aids atendidas pelo Serviço de Atendimento Especializado em Infectologia (SAE Infectologia). “Além de proporcionarmos o diagnóstico oportuno da TB, objetivamos, em consonância com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Plano Nacional pelo Fim da TB como Problema de Saúde Pública, ampliar o diagnóstico da ILTB e o tratamento preventivo da tuberculose entre as pessoas que vivem com HIV/aids em acompanhamento no nosso serviço”. No SAE Infectologia são atendidos cerca de 1,1 mil pacientes mensalmente, sem contar os atendimentos realizados pela unidade de dispensação de medicamentos do serviço.
Além de fornecer ferramentas de diagnóstico e tratamento preventivo, as enfermeiras do SAE Infectologia implementaram a linha de cuidado para avaliação diagnóstica e tratamento preventivo da TB, conforme as orientações técnicas do Ministério da Saúde . Isso ampliou a autonomia das enfermeiras para contribuir no diagnóstico da ILTB, conforme autorizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN).
O Núcleo de Pesquisa em Microbiologia Médica (NUPEMM) da FaMed/Furg, coordenado pelo professor Pedro Almeida, realiza o diagnóstico laboratorial da doença TB, bem como avalia a resistência dos microrganismos e a ILTB para o HU-Furg desde 1992. Além disso, desenvolve pesquisas para introduzir e avaliar novos métodos diagnósticos, monitorar a resistência aos antimicrobianos, realizar vigilância genômica, investigar novos medicamentos e avaliar fatores de risco associados ao desenvolvimento da doença.
“Essas parcerias entre a Furg e o HU são fundamentais para avançarmos no combate à TB. Estamos empenhados em desenvolver soluções inovadoras que possam melhorar o diagnóstico, o tratamento e a prevenção da doença”, destacou o professor Pedro Almeida.
Estudos Clínicos em andamento
O NUPEMM, por meio dos professores Pedro Almeida, Andrea Von Groll, Ivy Ramis e Ana Júlia e alunos de pós-graduação e graduação, participa de um ensaio clínico multicêntrico para avaliar a precisão de uma plataforma molecular de diagnóstico laboratorial. A ferramenta permite o diagnóstico da tuberculose e a detecção da resistência aos principais antibióticos em apenas duas horas. O projeto, financiado pelo Ministério da Saúde, conta com a participação de outras seis instituições de pesquisa e é coordenado pelo professor Afrânio Kritisk, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com coordenação local do professor Pedro Almeida.
Além disso, o NUPEMM e o HU-Furg participam do “TB PED – Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Agentes Respiratórios em Crianças e Adolescentes”, que visa identificar a prevalência de tuberculose, ILTB e demais agentes causadores de infecção respiratória entre pacientes com idade inferior a 15 anos e otimizar o diagnóstico da TB nessa população.
“Por meio da pesquisa e da assistência prestada no HU-Furg, buscamos soluções para esse grave problema de saúde pública”, afirmou o professor Pedro. O projeto é coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento, em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (PROADI-SUS), que objetiva aprimorar as instituições do SUS. É liderado, localmente, pelos professores Linjie Zhang e Ivy Ramis.
É importante ressaltar que a Gerência de Ensino e Pesquisa (GEP) do HU-Furg faz o credenciamento, análise, aprovação e gerenciamento das pesquisas desenvolvidas na instituição. Segundo o chefe do Setor de Gestão da Pesquisa e da Inovação Tecnológica em Saúde, Luis Fernando Guerreiro, “Os estudos em Tuberculose são relevantes, apor mostrarem que o padrão de ocorrência da doença está ligado a determinantes sociais. A situação tem se agravado em termos de adoecimento e mortes”. Ele acrescentou: “Fatores como pobreza e falta de acesso a serviços de saúde são cruciais na propagação da tuberculose. Investir em pesquisas é essencial para desenvolver novas abordagens de prevenção, diagnóstico e tratamento”.
Próximo estudo
Outro projeto envolvendo a FaMed e o HU será iniciado em breve, visa avaliar um novo teste de baixo custo, fácil execução e alta precisão para detectar ILTB. O projeto é coordenado pelo Ministério da Saúde e envolve seis instituições de pesquisa brasileiras.
Segundo Fernanda, “Avaliar a aceitabilidade, factibilidade e o custo-efetividades de diferentes alternativas diagnósticas para ILTB em diferentes subpopulações (contatos e pessoas vivendo com HIV), com vistas a subsidiar a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) para a tomada de decisão de incorporação da tecnologia, estão entre os objetivos desse novo estudo”.