Rio Grande – Uma mãe, Carolina Corrêa, registou um boletim de ocorrência, na 3ª Delegacia de Polícia (Cassino), no dia 23 de agosto, por injúria discriminatória. No BO, a mãe relata que o filho, um menor, estudante da série 8A, da escola municipal Wanda Rocha, assim como ela mesma, haviam sido ofendidos e injuriados por colegas de turma do menor. Ela contou ainda que as ofensas ocorreram, inicialmente, em um grupo de WhatsApp dos alunos, onde chamaram seu filho de macaco, além de ameaçarem de agressão, inclusive de segurá-lo para que outros colegas lhe batessem com um pedaço de pau. 

No dia 26 de agosto, Carolina registra outro boletim de ocorrência, informando que durante reunião para tratar da injúria discriminatória na escola, seu filho foi novamente constrangido com o comportamento de da vice-diretora, a qual igualou o comportamento de seu filho igual ao do outro menor, que o havia ofendido. Ela manifestou neste BO, o desejo de representar criminalmente em juízo contra a funcionária da escola.

Carolina procurou a reportagem do site Radar Sul, para contar os fatos, enviando inclusive registros de tela de conversas, áudios e vídeos. “O meu filho é mestiço de índio com negro. Ele estuda no Wanda Rocha, que já vinha com vários problemas de bullying, sem que os professores possam controlar. Na quinta-feira, dia 22 de agosto, meu filho foi a escola. Porém, com chuva, as turmas têm por hábito combinar que ninguém vá à aula. Assim, não é dada matéria nova e nem falta. Mas o meu filho foi. Na parte da tarde, ele foi chamado no grupo de alunos da escola e os colegas começaram a chamá-lo de nerd. Meu filho tem por hábito seguir as regras de forma muito rígida e reclama muito que ninguém respeita os professores e que fazem muita bagunça”, ressaltou.

Continua afirmando que “em um determinado momento, entrou um aluno, que tem inúmeros problemas, segundo a direção da escola. Meu filho procurava se manter a distância deste colega, porque sempre era problema. E assim, esse aluno entrou na conversa do grupo, já dizendo que meu filho era nerd, chamando-o de macaco. Isso foi crescendo, se tornando então ameaças como nós vamos lhe bater, nos vamos lhe agarrar, acusando-o ainda de ser um delator, um ‘X9’, em relação a uma denúncia de que alguns alunos estariam assistindo filmes adultos em aula”. 

Tentando uma solução

Ela procurou então a direção para uma reunião, tentando solucionar a situação. “Fui cedo para conversar com a direção. Meu filho foi para a aula e observei que o mesmo aluno que o havia xingado no grupo, chamou-o novamente de macaco e disse que iriam se acertar naquele momento. Meu filho se defendeu e bateu nele.  Chamaram a mãe deste aluno, que acabou sendo mandado para casa e meu filho foi para a sala de aula. Enquanto isso, eu aguardava uma decisão”.  

“Depois, a princípio, a direção achou melhor trocar meu filho de turma. Eu não aceitei porque seria punir a vítima. Dessa forma, o outro aluno foi para outra sala de aula. A direção pediu que eu fizesse um BO. Depois disso, fui na escola entregar uma cópia para a direção. Em reunião com a diretora Rita Contreira, a vice-diretora Juliana Lemos, eu e meu filho. Foi uma reunião insistindo para que tudo fosse esquecido, o que eu não aceitei. Desde o início houve uma tentativa de punir a vítima, que é meu filho”, enfatizou Carolina.

Print da conversa no grupo da turma

Ela foi orientada então, pela direção da escola, a procurar uma professora que cuida do núcleo dentro da Secretaria de Educação do município que cuida dos crimes de racismo e ódio. “Eu estive lá levei todo o material que eu tinha e elas disseram que dariam o encaminhamento. Feito isso, meu filho foi atacado novamente pelo colega, que passou a chamá-lo novamente de macaco e a proferir palavrões”, relatou. A situação acabou envolvendo o pai do outro aluno e Carolina e tomou outras proporções, com xingamentos de cunho pessoal. Carolina acabou por colocar o vídeo no grupo de pais, chegando este até a Secretaria de Educação, onde foi marcado que Carolina fosse até a secretaria, tendo sido avisada que o filho, assim como o outro colega, haviam sido suspenso, para ver se os ânimos se acalmavam e que era em caráter preventivo. “Eu não aceitei a suspensão do meu filho e disse que ele iria à aula e assim mantenho. A escola sabe que é responsável pela integridade física, psicológica e emocional dele enquanto ele estiver no recinto escolar”, finaliza a mãe.

 A escola publicou em sua página de Facebook, uma nota de repúdio contra qualquer tipo de atitude que envolva racismo ou qualquer ação que possa ferir física ou emocionalmente os estudantes, professores, funcionários e famílias. Essa postagem foi excluída pouco depois. Carolina, que vai levar adiante o fato, recorrendo inclusive à abertura de processo criminal, indagou o porquê da retirada da postagem e a resposta que recebeu da escola foi a retirada “por orientação de instâncias superiores a fim de melhorar as resoluções”.

A reportagem do site Radar Sul esteve na escola Wanda Rocha, onde foi recebida no portão, por uma das funcionárias, orientando que fosse até a Secretaria de Educação do município, “que a secretária Denise Lopes irá receber para falar sobre o assunto”. Ao chegar na SMED, não havia horário marcado para a entrevista e a secretária estaria em outro local, atendendo a outra demanda. O site continua a disposição para que a SMED ou a escola queiram falar. 

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