Os primeiros acolhidos já começaram a chegar ao Centro, que deve atingir sua lotação máxima até 15 de julho - Foto: Jürgen Mayrhofer/Secom

A família de Édson Marins terá um novo espaço de moradia a partir desta quinta-feira (4/7). Junto da filha, do genro e dos dois netos, ele será abrigado no Centro Humanitário de Acolhimento Recomeço, em Canoas, na Região Metropolitana. A iniciativa do governo do Estado, em conjunto com uma série de organizações parceiras, foi entregue nesta manhã pelo governador Eduardo Leite e pelo vice-governador Gabriel Souza. O espaço receberá cerca de 630 pessoas de forma transitória, enquanto aguardam as casas definitivas anunciadas pelo governo federal.

Recomeço não é apenas o nome do local, mas também o sentimento de quem está se mudando para lá. Desempregado, Édson viu a residência de madeira da família, no bairro Mathias Velho, ceder por causa da força das águas. Desde maio, eles estão abrigados no campus da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), e agora terão um lar temporário. “Nossa casinha caiu. Ficamos no abrigo e, neste momento, optamos por vir pra cá. É um lugar bom pra nós, e que muitas famílias também vão precisar”, disse, elogiando os espaços, especialmente as áreas dedicadas a crianças e a animais. “Os netinhos já foram lá brincar.”

A iniciativa faz parte do Plano Rio Grande, que atua em três eixos de enfrentamento aos efeitos das enchentes: ações emergenciais, ações de reconstrução e Rio Grande do Sul do futuro.

Leite destacou o caráter temporário dos Centros Humanitários de Acolhimento, que consistem em uma solução entre os abrigos emergenciais e as moradias definitivas. “Queremos casas definitivas para essas pessoas, mas, até lá, é preciso garantir cuidado, carinho e atenção”, afirmou. “Estamos buscando dar dignidade e estrutura para que essas pessoas estejam em melhores condições. Embora ainda não seja o ideal, é mais um passo. E vamos perseguir cada um dos passos seguintes até que tenhamos as casas definitivas para todos que precisam.”

“As pessoas estavam abrigadas, anteriormente, em espaços como galpões de Centros de Tradições Gaúchas, ginásios esportivos e salões paroquiais. Esses locais, embora viabilizados com muito esforço e solidariedade, não são adequados para continuar abrigando”, disse Leite. “Estamos propiciando, agora, uma estrutura qualificada, bem-organizada e com equipes técnicas contratadas para dar suporte às famílias por um período, até que sejam construídas as casas definitivas.”

Responsável pelas ações de construção do centro, o vice-governador agradeceu aos parceiros que contribuíram com doações de equipamentos e serviços. “Dignidade é a palavra que nos moveu na construção do espaço em apenas 30 dias. Estruturas como esta costumam levar meses para ficarem prontas, mas, graças ao apoio de muitas mãos, estamos abrindo o centro com rapidez para receber famílias que dormiam em ginásios. Nosso objetivo é não ter mais nenhuma pessoa vivendo em lugares sem as devidas condições”, disse Gabriel.

Diversos atores contribuíram para a realização do projeto. O Sistema Fecomércio/Sesc/Senac financiou a instalação de estruturas provisórias, e a gestão do centro será realizada pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), das Nações Unidas. A Agência da ONU para Refugiados (Acnur) doou as casas modulares, e o Exército auxiliou na montagem das unidades. O espaço conta, também, com o apoio da prefeitura de Canoas, que auxilia na prestação de diversos serviços, e com doações de empresas privadas e organizações, como Oi S.A., Whirlpool Corporation, Cordeiro Kids e Movimento União BR.

O projeto contempla não apenas a estrutura física, mas uma série de políticas públicas para propiciar atendimento adequado às famílias – como serviços básicos de saúde e de assistência social, encaminhamento profissional, atividades formativas, alimentação e segurança 24 horas. As crianças receberão apoio psicológico e acompanhamento por psicopedagogos e pediatras especializados em desenvolvimento infantil. Além disso, as casas modulares permitirão mais privacidade às famílias, garantindo sua individualidade.

Os primeiros acolhidos já começaram a chegar ao Centro. Sua lotação total, de 630 pessoas, deve estar completa até 15 de julho. As famílias desta etapa estavam em abrigos localizados em Canoas. A seleção daquelas que serão acolhidas no Centro Recomeço é realizada pela prefeitura de Canoas.

Parcerias

“Foi um período de esforço de muitos entes para responder às grandes necessidades do Rio Grande do Sul, e vamos continuar no apoio para integrar as famílias aos serviços”, afirmou a representante da Acnur, Ana Scattone, lembrando do apoio de empresas como Gerdau e Latam para o transporte das unidades habitacionais em tempo recorde para o Estado.

Para gerir o espaço, a OIM contará com 150 colaboradores. “O Recomeço é um marco da parceria entre OIM, governo do Estado e Fecomércio. Neste trabalho do dia a dia, vamos buscar garantir serviços e a participação da comunidade nas atividades e nesta passagem para uma solução duradoura”, explicou a representante da organização, Maria Oliveira.

“Em 6 de junho, estivemos neste local, assinando termo de cooperação com o governo do Estado e lançando uma semente que germinou em menos de 30 dias, para que possamos levar um pouco de esperança àqueles que perderam tudo. Essas famílias são símbolos de resistência, coragem, fé e esperança”, disse o prefeito de Canoas, Jairo Jorge.