Para chegar na casa era necessário o barco. A marca da água ainda permanece na casa. Foto: Anete Poll

Trinta pessoas, entre adultos e crianças, da comunidade do Pesqueiro, e mais 25 cães e quatro gatos, encontram-se há mais de um mês, abrigados na Igreja Santa Cecília, localizado em um terreno alto, enquanto aguardam o momento de voltar para casa. Enquanto isso, aproveitam os dias de sol para lavar, limpar e tentar reaproveitar o que dá. 

O abrigo, familiar, que serve de refúgio para quem perdeu praticamente tudo na enchente e terá que recomeçar do zero. “Aqui todo mundo se ajuda e a gente vai se virando”, diz Juliano Lemos, pescador da comunidade. As doações de comida e água vieram da Prefeitura e Defesa Civil. Também doações de particulares, que se solidarizaram com as famílias. 

E a volta para casa, como está sendo? “Eu nem sei explicar. Esta sendo muito triste. O pessoal que está aqui, perdeu tudo para a água. Até a gente conseguir se organizar novamente vai levar muito tempo”, acredita Juliano.  O cenário, realmente, é triste. Anos de luta, de trabalho para adquirir bens necessários e em poucas horas tudo se perdeu. 

Comunidade atingida se abrigou na igreja

No abrigo, também não foi fácil. Pelo descaso, muitas doações que necessitavam estar na geladeira se perderam pela falta de energia elétrica. “Nós passamos quase duas semanas aqui sem luz. E esse descaso não é só de agora. Esse é o nosso maior problema, junto com  a estrada que muitas vezes não permite que nossos filhos cheguem na escola”, diz a pescadora Taís Bastos Miranda. 

Andreia Cardoso está com o marido e dois filhos no abrigo. Ela conta que a água entrou cerca de 60 centímetros dentro da residência e foi uma das últimas casas a ser atingida.  “Além de perder os móveis e eletrodomésticos, a minha casa é chalé e o assoalho estufou e foi rachando onde tem pregos. Vai ser necessário reconstruir tudo. É uma tristeza”, aponta. Andréia saiu de casa no dia 9 de maio e com ela, foi apenas um freezer, a geladeira e uma máquina de lavar.  “Foi muito assustador. Ver tuas coisas se perdendo”.  Chorando, lembra que sua casa foi construída em 2017 e hoje terá que ser reconstruída. 

Barco era o único meio de se sair de casa

Laís Lemos Vilela, também pescadora, está com sua família no abrigo da igreja. Recorda que esta é a segunda vez que luta com uma enchente.  “Estou passando pela segunda vez com a água dentro de casa. Não tive apoio da primeira vez e nessa, só apareceram depois que um familiar postou nossa situação aqui. Ninguém da administração municipal veio até aqui, pelo menos para perguntar se estamos bem. O prefeito nem se prestou para vir aqui. O coordenador aqui da comunidade veio um dia aqui achando que ia largar três sacolões e estaria tudo bem”. Neste momento, Laís interrompe a entrevista, porque o choro a impede de continuar. “Desculpe, hoje eu não estou bem”, disse ela. Diante da situação caótica e sem o apoio de quem deveria se preocupar, não é Laís que deveria se desculpar por chorar de tristeza.